Nosso primeiro artigo da série que aborda o impacto do teste genético sobre as famílias contou a história da Claudia e sua filha Isabela que obteve o diagnóstico por meio de Array CGH. Nessa semana contaremos a história de uma família que obteve o diagnóstico molecular por meio de outro exame o sequenciamento do exoma.
Além das CNVs, os fatores de risco genéticos para autismo podem incluir variantes de nucleotídeo único, inserções / deleções e variações estruturais complexas, contidos em centenas de genes diferentes. A tecnologia de sequenciamento de nova geração (NGS) pode ser direcionada para uma seleção de genes de interesse, ou para as porções codificantes de todos os genes (sequenciamento de exoma), ou para o sequenciamento completo do genoma. Tais abordagens de sequenciamento estão agora sendo recomendadas para uso como testes de segundo nível para autismo, particularmente quando a análise de microarray cromossômico não revelou qualquer explicação para a apresentação clínica (1).
O exoma é o componente do genoma que codifica predominantemente as proteínas; esses segmentos são referidos como “exons” e podem incluir exons não codificantes. O exoma compreende cerca de 1% do genoma e é, até o momento, o componente mais provável de incluir variantes genéticas interpretáveis que resultem em fenótipos clínicos(2).
Conheça a história da Ana Letícia e sua filha Nicole, que obteve o diagnóstico genético por meio do sequenciamento do exoma.
“A Nicole sempre foi um bebê risonho e feliz!
Ela era uma menina simpática, alegre, ia ao colo de todas as pessoas, amigável e tranquila. Muito tranquila, hoje eu vejo que era tranquila demais, mas eu não sabia. Começou a balbuciar com 8 meses mas nunca chegou a falar mamãe, papai ou água. Nunca apontou.
Era uma menina um pouco mais preguiçosa e se um brinquedinho caísse longe dela, ela não tinha curiosidade ou anseio de ir buscá-lo. Nunca engatinhou para fora de um ambiente onde eu estivesse, nunca tive preocupação dela derrubar um objeto de cima da mesa ou tocar meu brinco, meu colar. Ela pouco explorava. Eu pensava: Nossa que menina mais boazinha! Que legal!!!
Engano meu…
Quando ela completou um ano começaram então as regressões. Aquele olhar feliz foi se apagando, o sorriso desaparecendo e dando lugar a um rostinho sério e fechado, os balbucios se calaram e o olhar então nunca mais foi o mesmo. Puff!!! Minha filha sumiu, apagou!
Entre 12 e 13 meses ela regrediu totalmente. As estereotipias e o hiperfoco em somente uma bolinha que ela insistia em rolar no chão começaram a partir deste mês. O pediatra dela foi muito rápido e me pediu para levá-la ao neurologista. Com um ano e 3 meses tinha diagnóstico de autismo.
Iniciamos todas as terapias possíveis e até hoje ela faz cerca de 30 horas de terapias semanais sendo 24 horas de ABA, 2 de TO, 2 de Fisioterapia e 2 horas de fonoaudiologia. Ela ainda não andava e caía demais. Nesta época fazia cerca de 7 horas diárias entre fisioterapia e atividade física.
Nosso neurologista recomendou que iniciássemos a investigação genética porque havia grande chance de nossa filha possuir uma síndrome.
Em setembro de 2018 quando ela tinha 1 ano e 10 meses recebemos através do resultado do Exoma o laudo com a Sindrome de Myhre. Muito rara, a Sindrome de Myhre tem 50 pessoas no mundo pela literatura e foi então um segundo luto.
Mas após o primeiro impacto só posso agradecer por ter tido o diagnóstico cedo pois hoje sei que é uma síndrome que gera muitos problemas de saúde mais graves que o próprio autismo. Assim conseguimos cuidar para que ela tenha melhor qualidade de vida e desenvolvimento dentro do que estiver nos limites dela.
Faça exame genético se você puder!
Mudou tudo na nossa vida. Absolutamente tudo!
A medicina está avançando e isto tem que ser usado em nosso favor e dos nossos filhos!”
Ana Leticia Moussa – Educadora Física
A síndrome de Myhre é um distúrbio do tecido conjuntivo com envolvimento multissistêmico, fibrose progressiva e proliferativa que pode ocorrer espontaneamente ou após trauma ou cirurgia, deficiência intelectual leve a moderada e, em alguns casos autismo. Os sistemas de órgãos primariamente envolvidos incluem: cardiovascular (defeitos cardíacos congênitos, estenoses de segmento longo e curto da aorta e artérias periféricas, derrame pericárdico, pericardite constritiva, cardiomiopatia restritiva e hipertensão); respiratório (estenose coanal, estreitamento laringo-traqueal, doença obstrutiva das vias aéreas ou doença pulmonar restritiva), gastrointestinal (estenose pilórica, estenoses duodenais, constipação grave); e pele (espessada particularmente nas mãos e superfícies extensoras)(3).
No caso desta família que descrevemos o diagnóstico da síndrome permitiu que eles ficassem atentos a outras questões relativas a saúde da criança e proporcionar o tratamento adequado.
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