Dois estudos recentes baseado no sequenciamento completo do exoma (SCE) e que contaram com a valiosa participação de famílias brasileiras, revelaram novos avanços no conhecimento dos chamados “genes de risco” para o autismo , ou seja trechos do DNA que possuem funções importantes no nosso organismo e que quando alterados desencadeiam características do autismo ou transtorno do espectro autista (TEA).
O primeiro estudo foi publicado na revista Autism Research (Montenegro et al., 2019), e contou com a análise de SCE de 30 famílias brasileiras que possuem crianças com TEA (incluindo criança, pai e mãe) atendidos no Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano e Células-tronco (CEGH-CEL)-Instituto de Biociências, USP, e que foram comparados com dados genômicos de 3.360 autistas e 3.591 pais do banco de dados internacional MSSNG (Autism Speaks, Canada).
Os resultados sugeriram dois novos genes candidatos de risco para o autismo, porém, visto que esses genes nunca haviam sido associados ao TEA, mais pesquisas precisam ser realizadas para confirmar esta relação. O segundo artigo, recentemente publicado na revista Cell (Satterstrom et al. 2020), representa o maior estudo de SCE com autistas realizado até hoje, incluindo a análise de dados de 11.986 indivíduos diagnosticados com TEA e/ou doença do neurodesenvolvimento. Tais dados foram levantados a partir de um esforço internacional de diversos pesquisadores para criação de um consórcio de análise de DNA de indivíduos com TEA, incluindo pesquisadores do CEGH-CEL, IB-USP.
Utilizando estes dados foi possível aumentar o número de genes candidatos de 65 para 102, e portanto quando alterados (com mutações patogênicas), são de alto risco para autismo. Destes 102 genes, mostrou-se que 49 deles estão associados com formas mais graves de atraso de neurodesenvolvimento e outros 53 em indivíduos que tiveram autismo como diagnóstico inicial. O estudo também relevou que esses genes são importantes para o início da formação do cérebro e a maioria atua na regulação gênica ou comunicação neuronal, os quais são mecanismos primordiais para o neurodesenvolvimento do indivíduo. Estudos como estes são cada vez mais necessários pois além de abrirem perspectivas para a melhor compreensão do autismo e novas terapias, facilitam a interpretação dos resultados de testes genéticos, visto que uma das principais dificuldades nestes casos é não se ter evidências robustas de que determinadas mutações em um gene podem ser causativas do autismo e/ou doença de neurodesenvolvimento.
Referencias: