A hipótese da associação entre a vacina tríplice para rubéola, caxumba e sarampo e o risco de desenvolver autismo surgiu em 1998 com a publicação de um artigo na revista científica The Lancet por um médico inglês chamado Andrew Wakefield. O estudo investigou 12 crianças autistas, sendo que os pais de 8 delas declararam que os sintomas de autismo da criança começaram a aparecer após a vacinação.
O artigo trazia poucas evidências para afirmar esta associação, e assim, pode-se dizer que levantava apenas uma “hipótese”. Mesmo tratando-se de uma hipótese, a história tomou grandes proporções, especialmente por conta do próprio autor do trabalho, que passou a declarar em diversas ocasiões, e em outros artigos publicados, que julgava que o programa de vacinação não era seguro. Porém, diversas situações de conflitos de interesse foram descobertas com relação a esse pesquisador: sua pesquisa foi em parte financiada por um grupo que buscava cavar evidências para usar em um processo que movia contra os produtores da vacina tríplice. Além disso, dados da pesquisa haviam sido manipulados para favorecer a hipótese levantada. Apesar do artigo dizer que as 12 crianças eram “normais” antes da vacina, foram encontrados registros de que 5 delas apresentavam sintomas de atraso do neurodesenvolvimento antes da vacinação. Foram encontrados registros também de que para outras crianças os sintomas começaram meses depois da vacinação e não dentro de semanas, como o pesquisador afirmou no artigo. O trabalho de Wakefield foi removido dos registros da revista Lancet em 2010 e o pesquisador, que era médico de formação, teve seu registro para exercer a medicina cassado.Em paralelo, incontáveis trabalhos científicos realizados depois de todo esse burburinho nunca confirmaram esta hipótese
(veja em: https://www.cdc.gov/vaccinesafety/concerns/autism.html).
Dados mostram que a confiança da população inglesa na vacina tríplice caiu de 92% em 1996 para 84% em 2002, com um consequente aumento do número de casos dessas doenças no decorrer desses anos: de 56 casos de sarampo registrados na Inglaterra em 1998, este número pulou para 450 em 2006. Em 2005, a Inglaterra registrou uma epidemia de caxumba, com mais de 5000 casos registrados e em 2008, o sarampo voltou a ser considerado uma doença endêmica na população. No Brasil, o sarampo foi considerado erradicado em 2016 e a taxa de vacinação era próxima dos 100%. Em 2017, essa taxa caiu para 93% e agora em 2018, para 84%. Há no momento (Agosto/2018), 677 casos de sarampo registrados no Brasil.
Como mencionado, não há na literatura científica evidências que mostrem que a vacinação causa autismo. Por outro lado, temos certeza que ao não vacinarmos nossas crianças temos a grande chance de que epidemias de doenças antes erradicadas voltem a acontecer e isso, sim, pode causar sérios prejuízos para a saúde de nossos filhos.